Voltei do exílio em julho de 1974 e permaneci no Brasil em regime de semi-clandestinidade até setembro de 1977, quando decidi voltar para Ribeirão Preto, emergindo assim de longo período nas sombras.
No primeiro semestre daquele ano trabalhei por dois meses em São José do Rio Preto, como sócio do escritório do advogado Tácito Ribeiro Costa.
A sociedade, entretanto durou apenas sessenta dias, pois aquele causídico inesperadamente vendeu o escritório com seus processos a outro colega de profissão e minha parte na sociedade também foi vendida, sem que eu fosse consultado e sem receber nenhum centavo da transação.
Falei com meu pai e ele tinha um primo, Bento Carnaz, advogado que possuía um escritório de Direito Trabalhista muito movimentado na Avenida Ipiranga, em São Paulo.
Decidi juntamente com Moacyr, meu pai, irmos à capital para falar com Bento sobre uma possível contratação minha para integrar o quadro de advogados de seu escritório.
Conversamos com o primo e demonstrei conhecer bastante a área trabalhista do Direito e ele nos disse que um dos advogados que lá trabalhava estava para sair do escritório.
Eu tinha a intenção de morar em São Paulo, pela dinâmica daquela cidade que sempre me atraiu e que era o lugar ideal para minha militância contra a ditadura e pelo socialismo.
Bento nos disse na oportunidade que a entrevista fora satisfatória e, kardecista que era, iria consultar os espíritos de sua preferência, para saber se aprovariam minha contratação.
O primo nunca nos deu retorno e meu pai e eu também não ligamos para ele, a fim de saber o veredito de seus oráculos.
Quanto aos espíritos, talvez não tenham nunca dado resposta a Bento e se deram, seguramente a mesma foi negativa, possivelmente para preservar Bento da repressão, contratando um militante comunista como eu.
A outra hipótese é que os espíritos consultados pelo primo, talvez fossem simpatizantes da ditadura militar, que governava o Brasil na época.
Assim, decidi voltar a Ribeirão Preto, depois de quase oito anos e reabrir o escritório de advocacia de meu pai, iniciando assim meu trabalho na região, sem a opinião de espíritos de qualquer espécie. Ribeirão Preto, 04 de setembro de 2022.
Defendeu algum espírito condenado pela ditadura?