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Foto do escritorLeopoldo Paulino

O Futebol


Em 1974 eu estava exilado em Buenos Aires, depois de haver conseguido sair do Chile após o sangrento golpe de Pinochet.

Juntamente com diversos refugiados latino-americanos eu morava em um hospital na rua Combate de los Pozos, prédio que estava em reformas e que o governo argentino destinou aos exilados políticos.

No local havia um campo de futebol, no qual todo final de tarde um grupo de companheiros jogava e eu sempre estava entre eles.

Ao lado havia um quartel do Exército, do qual a sentinela sempre assistia às nossas partidas.

Com frequência a bola caia naquela dependência militar e em quase todas as vezes que isso acontecia a sentinela nos devolvia a “pelota". Algumas vezes, no entanto, montava guarda no quartel algum soldado que não devolvia a bola, incorrendo no crime de apropriação indébita.

Aos sábados disputávamos uma partida de futebol com os pedreiros que trabalhavam nas obras da reforma, apostando cervejas que eram pagas pelos perdedores.

Em um desses dias, já estávamos no final do segundo tempo, com o jogo empatado, quando a bola caiu no quartel e não foi devolvida aos jogadores.

Na ânsia de terminar a partida, falei com Carlinhos, filho do camarada Devanir Carvalho, patriota brasileiro assassinado pela ditadura e pedi ao menino, espectador assíduo de nossos jogos, que nos emprestasse sua bola de futebol.

Mais que depressa, Carlinhos correu até seu quarto e rapidamente trouxe o objeto de desejo dos fanáticos jogadores.

Cinco minutos de partida e a bola cai novamente no quartel, outra vez não nos sendo devolvida.

Nesse momento, aproxima-se do campo a companheira Dina, mãe de Carlinhos e me faz ouvir um sermão, pois fora muito difícil para ela, pelas dificuldades financeiras por que todos passávamos, comprar uma bola de futebol para o filho.

Pedi desculpas e rapidamente fizemos uma vaquinha para arrecadar o dinheiro, cabendo a mim a tarefa de tomar um ônibus de imediato para comprar a bola subtraída pelos militares argentinos.

Já era noite quando entreguei a bola ao Carlinhos, que agradeceu e nos anistiou pelo acontecido.

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